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Está surgindo o Festival (Sul) Brasileiro de Cervejas?

Estivemos na última edição do Festival Brasileiro de Cervejas em Blumenau, o evento que deu início ao cenário de grandes festivais de cerveja pelo país pede socorro.

Como foi o cenário do FBC 2022?

Começamos o ano com muitas expectativas para o mês de março, onde normalmente acontece o Festival Brasileiro de Cervejas, porém, 2022 mostrou que a normalidade dos festivais ainda estaria longe da sua retomada e com um surto de Covid-19, vírus gripais e surtos de virose em todo o estado de Santa Catarina, o FBC 2022 teve de ser adiado mais uma vez.

A nova data foi remarcada, com isso dificultou a presença de diversas cervejarias que já estavam com suas economias prejudicadas por conta de 2 anos de pandemia que aterrorizam a economia mundial.

A data escolhida foi a semana que antecede o Dia das Mães, uma data onde boa parte da população planeja viagens para rever as matriarcas da família. A data é a segunda melhor do ano para o comércio, perdendo apenas para o Natal, portanto, um mês onde a economia é movimentada por presentes para elas, onde o valor médio do presente, segundo pesquisa, é de R$221,00 por presente, ou seja, um concorrente de peso para o turismo cervejeiro.

Apesar da data ter sido um problema para muitos, houve um complicador considerável, uma enchente na cidade mais cervejeira do país. No primeiro dia de FBC o município decretou estado de alerta para a cidade devido as grandes quantidades de chuva da região, porém, o evento seguiu o seu cronograma. No sábado, último dia de evento, o estado de Santa Catarina já havia decretado estado de emergência em 27 cidades por conta de um ciclone extratropical que deixou mais de 7 mil pessoas desalojadas.

Uma realidade inconveniente

Levando em consideração os fatores citados e que ainda estamos em meio a uma pandemia, alguns outros fatores recorrentes de outros festivais acabaram tornando o melhor festival cervejeiro do continente em um enorme festival sulista.

Existe uma realidade que vem acontecendo sistematicamente no Festival Brasileiro de Cerveja: ele está se tornando um Festival SUL Brasileiro. Alguns desavisados acusarão a pandemia como grande responsável por isso, mas na verdade ela acelerou algo que já vinha acontecendo ao longo dos anos.

O afastamento gradativo acontece justamente num momento de euforia em busca de eventos. Cervejarias estão loucas para participar, mas com responsabilidade financeira para não terminar o evento com mais dívidas desnecessárias, e a proposta do evento de Blumenau não dá sinais de que haverá algum “lucro” para os expositores.

Neste ano foram 66 cervejarias participantes, porém, apenas seis não eram da Região Sul do país. Somente de SC foram 42 cervejarias. Fazendo um comparativo com edições anteriores, em 2015 o FBC apresentou 20 cervejarias de São Paulo, na época, era mais que 20% do total de cervejarias do estado.

Hoje, São Paulo é o estado com o maior número de cervejarias, porém, no FBC apareceram apenas 6 cervejarias, um número quase insignificante se comparado com sua representatividade nacional.

Ao que parece, o Festival Brasileiro de Cerveja está deixando de representar as cervejarias espalhadas pelo Brasil, e cada vez mais se volta para o seu estado, sua vizinhança, mas principalmente da sua terra.

Festival-Brasileiro-da-Cerveja-Foto-Daniel-Zimmermann

Quando você não muda, alguém se muda

A logística é perversa, o valor do estande é alto, e o formato esse ano, mesmo que pequeno, não favoreceram algumas cervejarias. Diversas marcas ficaram viradas para uma parede e de costas para o palco/público, ficaram em frente ao banheiro, mesmo tendo espaços.

A lógica de ter um lugar menos favorecido, se explica com 200 expositores, mas com apenas 66? E ainda em 2 pavilhões? Desculpa, mas não. Dava tranquilamente para acomodar todos em uma posição favorável.

Sabe aquele velha frase de quando você já tem um determinado hábito e não muda? Pois é, a organização do FBC parece não ter outra receita para isso. As cervejarias estão buscando maior visibilidade, um retorno maior. E sim, estão buscando outros festivais, outras realidades muito mais próximas delas e que não precise vender um tanque de fermentação para participar.

Um retrato da forma no qual o Festival Brasileiro de Cervejas está sendo administrado, é a sua própria loja nessa edição, onde a imagem abaixo fala por si só.

Loja oficial do FBC 2022
Loja oficial do FBC 2022

A velha máxima do capital

E aí parece que tudo fica em torno de lucro, simples e basicamente. É preciso pagar os custos, isso é compreensível, mas também é preciso ser empático com o meio e entender o que realmente eles precisam para estar de volta a Blumenau. O sistema segue sendo, de certa forma ainda cruel e novos modelos precisam ser testados. Não deve ser apenas sobre lucro, sobre ganhar às custas de quem produz de fato cerveja.

E empatia tem que estar em tudo, como por exemplo, com os visitantes. Cobrar o cartão e não aceitar devolução não só e falta de empatia como também é ilegal, considerando a lei do consumidor que permite o reembolso em caso de compras por arrependimento caso não tenha visto o produto ou serviço antes do pagamento.

Se o temor antes era de ter um sistema de cartões (em edição anterior os cartões deram maior dor de cabeça, e até hoje cervejarias não receberam todo o ressarcimento), esse problema não houve. Tudo certo, sistema funcionando corretamente

Bravos aqueles que são bravos

Aqui cabe uma ressalva às cervejarias! Elas entram lá para conquistarem fãs, para serem conhecidas, para fazer acontecer. É o festival feito por elas, para elas e para o consumidor. É onde colocam em campo seus melhores jogadores, as cervejas! E aqui cabe todas as ressalvas do mundo. Tudo se justifica por estar com elas, participar com elas, bater papo com os donos e cervejeiros brilhantes, rever amigos e fazer novas amizades.

Elas são a razão de existir um festival que já chamamos de Festival Brasileiro de Cervejas por conta da sua representatividade e diversidade.

Texto: Fabrício Domingues & Oscar Freitas Jr.

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