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Como foi ser juíza de cerveja no Aro Rojo – México

O Aro Rojo é um concurso internacional de cerveja que ocorreu de 6 a 10 de junho em Tampico, México. Tive a oportunidade de participar como juíza e vim compartilhar como foi a experiência.

Eu sou Aline Ferreira, Sommelier de Cervejas, juíza BJCP e administradora. Tenho uma agência de conteúdo e Marketing para cerveja, a Work a Beer Marketing.

Tudo começou com meu trabalho como embaixadora aqui no Brasil, entrando em contato com as cervejarias e convidando a fazer parte da edição de 2022 depois de alguns anos de pandemia.

Foi um grande desafio, pois ainda é um momento difícil para as cervejarias que ainda estão se recuperando dos prejuízos que a pandemia trouxe, baixo estoque, planejamento e custo de investimento e envio são barreiras enfrentadas para participação.

Ainda assim, conseguimos quase 100 inscrições brasileiras, contando com os cervejeiros caseiros.

Com o convite para julgar veio muita felicidade em ter meu trabalho reconhecido e ao mesmo tempo um sentimento de medo de não dar conta da responsabilidade e decepcionar a organização.

Creio que esses medos e receios são normais sendo minha primeira competição internacional e comercial, visto que até então só havia julgado competições caseiras.

Como é sabido, o trabalho de juiz de cerveja é voluntário, então há o custo de passagens e outras atividades que precisam ser pagos pelo juiz. A organização se responsabiliza pela alimentação e hospedagem durante os dias de evento, o restante é por conta do juiz.

Então esse foi mais um desafio, correr atrás da grana para estar lá e aproveitar para fazer um turismo rápido e conhecer o que der no caminho, já que iria até o México.

Cheguei em Cidade do México alguns dias antes do início da competição e me juntei a Júlia Reis para aproveitar a cidade. Visitamos alguns lugares imperdíveis como o Museu de Antropologia, Museu do Templo Maior, alguns monumentos importantes e ainda as Pirâmides de Teotihuacan que fica a aproximadamente 1h da Cidade do México.

Estivemos em alguns bares de cerveja e Mezcalerias (que é uma baita pedida pra conhecer a bebida local), além de buscar mergulhar na culinária do país que é um show a parte.

A cultura do país é muito rica e preservada, eu gostaria de mais tempo para conhecer e aprender. É impressionante o nível de tecnologia e agricultura entre as civilizações antigas do país.

Mas voltemos…chegando a Tampico de carro em uma viagem de aproximadamente 6h já pudemos avistar a refinaria e o porto da cidade. O clima do litoral é muito diferente da Cidade do México, é mais úmido e quente.

Vista da entrada do salão de julgamento

O hotel Arenas del Mar foi o escolhido para a competição e ficava em frente ao mar (sim, julgamos com uma super vista).

O julgamento

O primeiro dia de julgamento foi precedido por orientações de como preencher e utilizar o software, que neste caso era o Beer Awards Plataform – BAP, que é brasileiro e eu já estava familiarizada. Isso foi importante para que eu sentisse um pouco mais de segurança. Estava muito preocupada quanto ao preenchimento das súmulas em Inglês, mas me permitiram escrever em Português. Tenho certeza que meu poder de argumentação e feedback é melhor em Português e fica o desafio para melhorar o idioma para os próximos.

O guia utilizado como orientação de estilos foi o Beer Judge Certification Program – BJCP e confesso que tenho mais facilidade com esses parâmetros.

Iniciando o julgamento da categoria profissional numa mesa com 4 pessoas, as súmulas devem ser preenchidas individualmente e ao final o grupo deve conversar e chegar numa nota que não tenha diferença maior que 5 pontos, dando um feedback consistente e acordado entre os 4 jurados.

Mesa de julgamento Aro Rojo
Mesa de julgamento

Eu estava muito nervosa, com vontade de aprender e contribuir. O idioma é uma barreira muito grande, pois eu estava ali avaliando uma cerveja, com a responsabilidade de dar um parecer justo e técnico e tendo que expressar isso em outra língua na discussão em grupo.

Algumas pessoas só falam Inglês, outras só Espanhol e algumas os dois (mas no meu caso nunca seria Português, rs). Então o desafio era argumentar e discutir sobre as qualidades sensoriais da cerveja num desses idiomas. Algumas semanas antes eu já estava estudando o vocabulário sensorial em Inglês, mas na prática é muito diferente.

Durante os intervalos eu buscava a Júlia para dar um break na mente e falar um pouco de Português, é tudo muito intenso, não posso nem imaginar quem vai morar em outro país e não tem ninguém pra conversar na língua materna. Por vezes eu me via olhando pro nada só tentando assimilar todas as informações.

Algumas mesas que estive, pude ver ótimas cervejas e o que mais me chamou atenção foram as Fruit Sour Beers com adição de frutas mexicanas, essa foi uma oportunidade de conhecer alguns sabores que nunca havia visto antes e que compartilhamos com alguns jurados mexicanos para entender o perfil de cada uma. Como a tuna, que é uma fruta do cacto que se encontra facilmente para comprar nas ruas na Cidade do México.

É importante ressaltar que alguns flights são muito extensos de alguns estilos e que é possível solicitar à organização para trocar de estilo caso haja saturação. Visto que isso pode comprometer o avaliação sensorial e justa que as cervejarias merecem.

Isso aconteceu algumas vezes depois da minha mesa julgar muitas cervejas do mesmo estilo, então é só dar um toque na organização e no serviço que é possível fazer a troca.

Durante as avaliações, o usual: muita água e pão neutro para manter o foco. E o grande desafio, além do idioma e nervosismo de fazer um bom trabalho, era julgar com aquela vista para o mar. Impossível não ter vontade de pular pra um mergulho…haha

O serviço foi muito ágil e eficiente, muito atento à dinâmica de cada mesa.

Após as sessões de julgamento, a organização preparou diversas atividades que nos colocaram em contato com a cultura local, com comidas típicas e tours guiados pela cidade. Foi uma completa imersão.

Network

Fora todo o aprendizado e experiência de julgamento, a competição também é uma grande oportunidade para fazer mais contatos e aumentar a rede de trabalho. Na verdade, sempre enxergo esses momentos desta forma.

Mostrar meu trabalho e que estou disponível sempre a parcerias e trabalhos futuros, inclusive fica a dica pra quem está lendo. Manda Jobs 😉

Pessoas de mais de 24 países, com histórias e experiências muito diferentes para compartilhar. É uma riqueza cultural muito grande que se deve saber aproveitar. Difícil até ter tempo para ter boas conversas com todos.

Juízes de cerveja Aro Rojo

Busquei conhecer um pouco de tudo, ouvir, falar do meu trabalho. E estou muito feliz de como o segmento cervejeiro da América Latina está caminhando, nosso potencial é gigantesco.

Participação feminina

Outro ponto que me deixou extremamente contente foi o fato da organização se ater às questões de gênero, buscando dar espaço a mais mulheres no corpo de jurados.

Em Sauter (USA), Emilce (Argentina) e Aline (Brasil)

Temos muitas mulheres competentes e experientes que podem nos representar mundo a fora, e tive a felicidade de conhecer a história de algumas cervejeiras por lá. Que possamos continuar assim e oportunizar que outras mulheres alcancem a posição que desejam dentro do mercado.

Conquistas brasileiras

O Brasil mostrou que veio pra vencer e trouxe diversas medalhas pra casa. Durante a cerimônia de premiação eu me emocionei diversas vezes ao ver que muitas cervejarias e cervejeiros que entrei em contato, tiveram êxito e ganharam destaque na competição. Senti que meu trabalho de ir atrás dessa galera e convencer a participar valeu a pena. Fica aqui minhas felicitações a todos as cervejas brasileiras que participaram e que ganharam seu devido reconhecimento.

Cervejaria Uçá – Melhor cerveja (Valeime) e melhor cervejaria Brasileira

Medalhas de Ouro

Valeime da Cervejaria Uçá

Medalhas de prata

Odin Witbier da ØL Cervejas Especiais

Catharina Sour Limão e Cúrcuma da Cruls Cervejaria Artesanal

Denker Catharina Sour da Cervejaria Denker

Thor Belgian IPA da ØL Beer Cervejas Especiais

Mestre dos tempos #2 da Cerveja Blumenau

Medalhas de Bronze

Blumenau Frida Blond Ale da Cerveja Blumenau

Daoravida Tamaru da Cervejas Daoravida

St Patricks Old Ale pela Brew Center

Königs Defumada da Königs Bier

Blumenau Macuca pé-de-moleque da Cerveja Blumenau

Ashby Weiss da cervejaria Ashby

Van Gogh da Cervejaria Masterpiece

E ainda Best of Show da Categoria Amador para André Mendes Piol com sua Bella – I Lupi

Medalha de ouro para Cleberton José Pereira com sua Specialty Wood Aged Beer

Medalha de bronze para Chico Milani com Catharina Sour.

Veja a premiação completa aqui.

Tentei trazer um pouco de como foi essa grande aventura da minha primeira competição internacional, que apesar de achar que não mereço, no fundo eu sei quanto esforço e estudo eu tive até aqui e ainda tenho pela frente. Nos vemos pelo mundo é o meu mais novo lema e pretendo segui-lo.

Meu agradecimento especial à organização que fez um ótimo trabalho e as cervejarias brasileiras que confiaram no processo e investiram seu tempo e dinheiro na competição. Que venha o próximo ano!

Se você tem qualquer dúvida ou comentário que queira compartilhar comigo, fica a vontade para me chamar no insta

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