Provavelmente você já ouviu alguma história da cerveja e sua ligação com Igreja, Monges ou a algum Santo, o que você talvez não sabe é que há mais de um santo relacionado a essa história e são eles: Santa Hildegarda de Bingen, Santa Brígida, Santo Arnulfo de Metz, Santo Arnaldo de Soissons (sua história muitas vezes é confundida com a do Santo Arnulfo), Santo Adriano de Nicomédia, Santo Agostinho de Hipona, Santo Amândio de Maastricht, São Bonifácio de Mainz, São Columbano, São Venceslau, São Floriano, São Lourenço e não menos importante, São Patrício ou Saint Patrick que é muito provável você também ter ouviu esse nome em algum lugar, pelo fato de que todos os anos no dia 17 de março comemora-se o Saint Patrick’s Day, juntamente com chope verde, mas poucas pessoas sabem o real significado dessa data tão importante, na verdade poucas pessoas sabem que todos esses santos estão ligados diretamente a história da cerveja.
Ao longo dos anos a igreja criou um rito especial para a cerveja, que por sinal é bem antigo – o livro litúrgico Rituale Romanum foi escrito em 1614 durante o papado do Papa Paulo V, o capítulo VIII é dedicado à bênção de coisas designadas para o uso ordinário como o azeite, sal, sementes e a principal, a bênção da cerveja, que ficou conhecida como Benedicto Cerevisiae, ou seja, a cerveja é abençoada, SIM!
A relação da cerveja com a igreja não para por aí, afinal de contas ela foi uma grande aliada da austeridade monástica durante séculos. Os monges produzem cervejas há muito tempo e em época de quaresma onde era necessário fazer jejum, as cervejas mais encorpadas como Dubbel, Trippel e Quadruppel eram fundamentais porque os mantinham razoavelmente nutridos e ajudava a suportar o frio, sem contar que, naquela época beber cerveja era muito mais seguro e saudável do que beber água. Como bons anfitriões e homens caridosos, os monges ofereciam cerveja aos viajantes e mendigos que lhes pediam ajuda. A bebida também servia como fonte de renda para os monastérios, que vendiam a produção excedente, assim como queijos e outros produtos.
Até hoje, a cerveja feita pelos monges trapistas belgas é considerada por muitos especialistas como a melhor do mundo, mas diante de todas essas histórias você deve estar se perguntando, como surgiu o nome Trapista? Bom, é bem antigo, porém bem simples também, esse nome surgiu no mosteiro cisterciense de Nôtre-Dame de La Trappe, quando foi reformado em 1662 por Armand-Jean Le Bouthillier de Rancé, o fundador da Ordem Trapista – ou Ordem Cisterciense. Mas, e a Abadia, o que seria? Para quem não sabe “Abadia” é como chamavam os próprios mosteiros das comunidades cristãs, mas nem tudo foi tão maravilhoso devido a sua ligação com a igreja, e justamente por isso, muitas delas deixaram de existir, principalmente pelas perseguições, sendo um dos exemplos, os atos do Rei Henrique VIII, da Inglaterra, que acabou com todas as Abadias do país, pois tinham conflitos pessoais com o Vaticano e com a Reforma Protestante.
Durante muitos anos, a fabricação das Abadias foram mantidas e cultivadas nos monastérios, porém, ao passar do tempo, outras produções começaram a se destacar, como por exemplo as de Ordem Trapista, conforme citado logo a cima e assim, as Trapistas começaram ganhar fama e são fontes de inspiração para inúmeros produtores e do mundo todo.
Não confunda
As cervejas de Abadia não são cervejas trapistas. As cervejas de Abadia são produzidas sob licença de mosteiros existentes ou abandonadas. Símbolo de cultura e tradições, os mosteiros eram organizados e habitados por monges, que faziam voto de pobreza e jejuns prolongados. As cervejas trapistas devem vir de mosteiros ainda ativos e para evitar a utilização indevida do termo trapista, em 1997 foi criada uma instituição para controlar quem poderia ou não utilizar o selo de trapista, que passou a ser conhecida como ITA (International Trappist Association).
Vale ressaltar que, as Trapistas e de Abadias não são estilos de cerveja e sim, termos que remetem as suas tradições cervejeiras dentro dos monastérios. As abadias e monges continuam fazendo excelentes cervejas e caso você queira provar a autêntica Trapista, e tem dúvidas se ela é registrada, é possível ver suas certificações acessando o site International Trappist Association mas, já adianto que, algumas delas são: Rochefort, Westmalle, Westvleteren/St. Sixtus, Chimay, St. Joseph’s Abbey, Tre Fontane, entre outras; já as de Abadia, a lista é extensa e entre elas estão: Leffe, St. Bernadus, Maredsous e St. Feuillien.