O lúpulo, planta responsável por sabores e aromas na sua cerveja é sensível a oscilações do clima, produtores dos EUA desenvolveram estratégias para contornar as ameaças às safras – e manter os preços.
“O lúpulo é o que gostamos de chamar de o tempero da cerveja”, conta Robbie O’Cain, mestre-cervejeiro da The Starr Hill Brewery, na Virgínia. “Ele serve para dar equilíbrio, senão a cerveja seria bastante doce.”
O lúpulo é da família das trepadeiras, onde os cultivos sustentam-se com varas e cordões, dando flores verdes e com formato cônico.
O ingrediente é importante para as cervejarias artesanais americanas, onde se aprofundam em produtos com maior sabor, assim como no Brasil.
Mau tempo na Alemanha, boa safra nos EUA
Não faz muito tempo, parte dos produtores nacionais foram confrontados com notícias amargas: menores estoques de lúpulo à disposição e preços mais altos. “O ano passado foi péssimo para o cultivo na Alemanha: o tempo esteve muito ruim mesmo, cortando as safras entre 25% e 30%”, lembra O’Cain. “E nós usamos lúpulo alemão em todas as nossas lagers (cerveja de baixa fermentação).”
Por sorte, a maioria das cervejarias fecharam contratos fixando o fornecimento e os preços por vários anos. As cervejarias menores ficaram com dificuldades para obter todo o lúpulo que precisavam.
A história poderia ter um final feliz, pois em 2015 os plantadores americanos, por sua vez, produziram mais lúpulo do que a Alemanha, campeã tradicional do mercado.
Contudo uma seca prolongada no oeste do país deixou apreensivos os cultivadores dos EUA.
Expandindo as áreas de cultivo
Em reação, os produtores americanos de lúpulo planejam construir mais reservatórios e adotar novas técnicas para conservar a água. “Com o uso de sensores de solo, os cultivadores podem monitorar minuciosamente a quantidade de umidade necessária à planta”, explica Ann George, que dirige a Hop Growers of America.
A organização cultiva grande parte do lúpulo americano. Ao leste da Cascade Rangeem, o ar é seco, ambiente que ajuda a evitar o míldio e outras doenças causadas por fungos que atacam as plantas.
Nas noites de verão, o sol brilha até as 22 horas naquela região. “Se você observar as principais zonas de cultivo do lúpulo, elas se concentram todas em volta do Paralelo 45 N. Isso é por causa da fotossensibilidade da planta: nesta zona do planeta, ela floresce com muito mais abundância e rende safras bem maiores”, relata Ann George.
Contudo também em regiões onde as condições não são ideais, há agricultores americanos entrando no ramo do lúpulo. No estado da Virgínia, Stan Driver cultiva o produto para duas cervejarias nas Blue Ridge Mountains. A colheita ainda é modesta, mas pesquisadores da Universidade Técnica da Virgínia também estão desenvolvendo variedades híbridas e melhor adaptadas a essa região.
Preparativos contra a mudança climática
Os cervejeiros, por sua vez, aproveitam a disponibilidade das flores recém-colhidas no campo, fazendo um ale especial com o assim chamado Wet Hop. “Usar o método Wet Hop é como usar ervas frescas em comparação com ervas secas: é uma explosão de aroma na cerveja”, descreve Driver.
O cultivo do lúpulo também começa a florescer em países como China, Argentina, Austrália e Nova Zelândia, complementando as safras dos “velhos” produtores Alemanha, EUA, Inglaterra, Bélgica, França e República Tcheca.
Especialistas saúdam a descentralização geográfica da produção, esperando que ela proteja o mercado das perdas regionais causadas pela mudança climática global. Os pequenos produtores de cerveja, por sua vez, vão se preparando para combater a mudança climática com a criação de um mercado online, o Lupulin Exchange, que compra excedentes de estoque de lúpulo de grandes companhias e os revende a cervejeiros artesanais de todo o mundo.
Fonte: Empreendedor Cervejeiro
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