No último dia 31/08 saiu o novo anuário da cerveja com os novos números da crescente ascensão do mercado cervejeiro. E só no ano passado subimos mais 12%. Foram criadas 200 novas cervejarias no mercado e 34 fecharam as portas. Tendo um “salto” de 166. Agora somos 1549 no país todo.
Não é tudo, mas é tudo
Ainda não conseguimos ver nesses registros as cervejarias ciganas, visto que o MAPA entende que somente cervejarias com que possuem infraestrutura podem fazer os registros de suas cervejas, ou seja, as suas produções (das ciganas) estão escalonadas aqui, mas seus registros não. Ainda estão como “distribuidoras” ou algo do tipo.
Bastaria que as cervejarias registrassem o número de cervejarias que produzem com elas para ter esse número, mas o MAPA tem lá suas dificuldades para fazer isso. O que é uma pena, e por várias razões.
A primeira dela é que sem o registro disso o número das cervejarias não é o correto, então podemos ter muito mais do que realmente temos. E a segunda questão é que não temos uma real produção de cervejas produzidas pelas cervejarias registradas, outras se especializam nisso, ou seja, pode ser que as cervejarias registradas produzam muito mais para ciganos que para si próprio, o que comprometeria o real número de cervejarias que produzem no país.
Concentração
Ainda, segundo o MAPA, a concentração maior é na região sul e Sudeste, o que é “normal”. Enquanto que o sudeste continua tendo a maior concentração populacional, o Sul segue sendo a “bolha” da cerveja artesanal. Por mais que outras regiões estejam em franca ampliação do mercado.
Dentro desse espectro geral, SC aumentou seu número de cervejarias em relação a MG, chegando a 3ª posição em número de cervejarias atrás de SP e RS.
Uma questão de proporção
Um dos principais e para mim, fundamentais aspectos estão na proporcionalidade.
Na questão de percentagem dos estados em relação a crescimento, temos números como a região Norte que registrou 20% de aumento em relação ao ano anterior. Estados como Roraima que tiveram um aumento de 200% e Acre 100%, impulsionaram significativamente essa porcentagem.
Ah, mas alguém vais dizer, “Mas cada uma delas teve apenas 4 cervejarias abertas”. Sim, mas é significativo e simbólico isso. Representa que o setor das cervejas artesanais estão chegando em todo o território nacional. Todo.
Vamos ver a questão de crescimento médio para ver o quadro geral. SP teve um maior crescimento sendo que abriram 29,9% de cervejarias em relação ao ano passado, RS 19,4% e SC 26,3%. Os maiores destaques estão por conta do ES que cresceu 53,5%, BA 43% e RN 41,8%. Por mais que as concentrações maiores estejam com SP, SC e RS, deem uma olhada no crescimento vertiginoso desses outros estados.
E isso é extremamente positivo para o setor que era comandado exclusivamente por grandes players.
Uma questão demográfica
Outro aspecto que vale a penas se debruçar é o demográfico. Considerar cervejarias por habitantes. E por que isso? Oras, dizer que tem mais cervejarias em SP, por exemplo, visto que possui uma maior população não é uma grande realidade.
A proporcionalidade nos dá uma noção mais concreta de distribuição dessas cervejarias. Aqui podemos ver como esses números chegam de forma proporcional.
Enquanto que SP desponta como maior número de cervejarias geral, em relação per capta ela é apensa a 6ª colocada.
SC possui 37 633 habitantes por cervejaria e seguido por RS – 40 234, ES – 72 079, PR 73 402, MG 113 291 e SP 137 203.
Isso pode-se fazer várias leituras, mas a principal são os números de diferenças entre SC e RS é de 2.601, enquanto que a relação entre RS e o ES que é o terceiro é de 31 845 habitantes por cervejaria. A concentração nesses dois primeiros estados SC e RS corresponde a 56,75% das cervejarias por habitantes no país. Um número significativo.
Desacelerando a produção de cerveja
Por mais que tenhamos tido um crescimento no número de cervejarias, temos que dar uma olhada no número de registros de cervejas.
Se nos anos anteriores a pandemia relação 2019 e 2020 tínhamos um crescimento de 33,2% a relação 2020/2021 foi de apenas 5,2% de novas cervejas. Se compararmos a anos anteriores como 2018, por exemplo, o crescimento era de 77%. Reflexo direto da economia brasileira e é claro, da pandemia.
Num cenário que crescia vertiginosamente era esperado um comportamento mais “conservador” do setor para manter a operacionalização das cervejarias.
E 2022?
Creio que 2022 é uma realidade ainda que pisando em ovos, mas já dando umas pisadas fortes em determinadas áreas do setor. O cenário pode apontar para manter um determinado conservadorismo econômico, afetado principalmente pelas altas dos custos dos insumos, principalmente, além do pouco investimento do setor público na área.
O crescimento ainda é heroico, de forma a se consolidar num mercado que cada vez mais exige uma cerveja mais local e mais próximo da realidade do meio onde se vive.
Talvez esse seja o melhor cenário para o movimento crafbeer que tem visto os grandes players investirem descaradamente no setor, mesmo sendo ela a grande responsável pelo surgimento das cervejas artesanais.
O certo, ou talvez o quase certo, é que o cenário pode ser muito favorável, visto as diversas ações que vem ocorrendo no setor nesse ano.
Tem muita coisa a se explorar no mercado e muito a se concretizar. Então vamos esperar esses números e que sejam cada vez mais real para que tenhamos a exata noção do que estamos, como setor cervejeiro, criando.