Cerveja em Foco – Sommelieria Brasileira

Novas técnicas favorecem o cultivo nacional do lúpulo

O Brasil é o terceiro maior produtor de cerveja no mundo, mas praticamente todo o lúpulo usado em sua fabricação vem de fora. Os Estados Unidos e a Alemanha são alguns dos principais países produtores da planta, e, por muito tempo, duvidou-se de que ela pudesse dar certo no Brasil.

Pesquisadores e agricultores desenvolveram novas técnicas que estão favorecendo a cultura em solo nacional e os campos de lúpulos se espalharam pelo país. Atualmente, a Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolupulo) tem 160 agricultores.

As flores do lúpulo são o principal ingrediente na formulação da bebida. Dentro delas, há a lupulina, que contêm resinas e óleos essenciais que trazem amargor, aroma e ajudam a conservar a cerveja.

Iluminação na plantação

Uma das fazendas que investe na cultura do lúpulo fica em Fartura, no interior de São Paulo, onde é necessário iluminar a plantação para que o lúpulo cresça e dê flores, diferentemente do que ocorre nos principais países produtores.

Os EUA e a Alemanha, por exemplo, ficam em regiões do planeta onde os dias de verão são mais longos do que no Brasil. Portanto, o lúpulo aproveita esse chamado “fotoperíodo” para subir e dar flores antes de o inverno chegar. Já no Brasil, por causa da posição geográfica do Brasil, não há tantas horas de luz solar durante a etapa de desenvolvimento da planta. Por isso, se nada for feito, ela vai rastejar no chão e não vai conseguir subir, explica o agricultor José Mário Dulicia. Sem luz, ela produz menos hormônio e não cresce.

Na fazenda de Fartura, a técnica deu certo. A produtividade aumentou 70% e o número de safras por ano passou de uma para duas. Para iluminar toda a área de 6 mil metros quadrados, eles gastaram R$ 22 mil.

“Custa caro mas vale muito a pena. Você vai ter muito menos dor de cabeça, muito mais facilidade de cultivo, produção e qualidade melhor”, diz o agrônomo Felipe Francisco. Já há estudos sobre a aplicação de hormônios como alternativa à iluminação.

Nutrição

Para um bom crescimento do lúpulo, a nutrição também ajuda. Em Fartura, os agricultores fazem a irrigação com fertilizantes, quando o lúpulo alcança o topo, ele abre os braços, dos ramos laterais, saem as flores chamadas de cones.

A média nacional para um lúpulo maduro gira em torno de 200 gramas de cones secos por planta, longe dos 800 gramas da Alemanha e dos EUA. Mas alguns agricultores brasileiros já estão encostando nos gringos. A Fazenda Fartura, por exemplo, chegou aos 500 gramas por planta, em uma safra só. E eles ainda testam formas de diminuir perdas, como a construção de um jambolão para evitar ventania nas flores.

Testes em áreas planas e ensolaradas

O dono da fazenda que fica em Fartura é o médico cirurgião e agricultor Daniel Palma. Para começar o seu negócio, ele se inspirou na experiência do agrônomo Rodrigo Veraldi, em São Bento do Sapucaí (SP).

Há uns cinco anos atrás, ele fez vingar uma variedade de lúpulo que batizou de mantiqueira. Hoje, ele insiste no cultivo, mas o está testando em áreas mais planas e ensolaradas. “A gente resolveu fazer também técnicas mais eficientes, como essa rafia de solo, que é uma cobertura permanente que protege o solo das ervas invasoras, e também mantém a umidade e a microbiologia do solo mais intactas”, explica Veraldi.

No campo, a mantiqueira veste um caule arroxeado e, no copo, tem um amargor mais suave.

Rodrigo diz que essa variedade de lúpulo foi a moeda da sorte para a cultura no Brasil. “Quando a gente começou a divulgar e dizer que era possível cultivar lúpulo no Brasil, muita gente ficou interessada, nos procurou, nos visitou e partiu também pra buscar novas possibilidades”, afirma.

Especialização

Além de gerar renda para os agricultores, a produção nacional de lúpulo pode ajudar os cervejeiros a reduzir custos. Para fortalecer essa cadeia, profissionais têm se especializado desde à produção de mudas até a análise de qualidade do produto. É o caso do engenheiro Flávio Novaes, que montou um laboratório em Mogi das Cruzes (SP) para analisar o amargor e o perfume da lupulina. As amostras vêm de várias regiões do Brasil. “Eu já fiz análise de lúpulos com baixíssima qualidade, no último ano, estou fazendo análise de lúpulos excelentes”, diz Novaes.

Para atender o produtor do fim até o começo, Flávio também propaga mudas, suas plantas têm de um a cinco anos e já são matrizes. São elas que vão produzir os clones para preparar as mudinhas. Das estacas, ele faz mudas que são vendidas por até R$ 40.

Outra pessoa importante para o setor é a técnica agrícola e produtora de mudas Teresa Yoshiko. Foi ela quem batalhou para regularizar as cultivares de lúpulo no Ministério da Agricultura. Hoje, quase 50 variedades têm autorização para cultivo e venda no Brasil, além da produção de cerveja, o lúpulo também é usado na indústria farmacêutica e para fabricar cosméticos. No site da Aprolupulo tem um manual de boas práticas e a lista de consultores especializados.

Fonte: G1

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