Há mais de dois mil anos os belgas dominam a arte de fazer cerveja, inclusive aquelas que possuem sabores extraordinários, capazes de marcar o paladar de qualquer pessoa que aprecia boas bebidas. Assim, a Bélgica se tornou referência mundial e suas cervejas são consideradas Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco, e não por menos ela é considerada por muitos como o Paraíso das Cervejas.
A Escola Belga é famosa por produzir alguns estilos de cerveja com características vinificadas e acidez abundante, incluindo a Flanders Red Ale, que ficou conhecida como o vinho de Borgonha da Bélgica por carregar características que remetem ao vinho tinto.
Os países Bélgica e França são praticamente colados um ao outro e naturalmente muitas de suas tradições são compartilhadas. Se de um lado a França é famosa pelo cultivo de uvas e seus vinhos, o clima da Bélgica não é o mais adequado para o plantio de uvas, porém é perfeito para produzir grãos, lúpulos e os demais ingredientes da cerveja. Portanto vale ressaltar que algumas cervejas belgas possuem notas vínicas não devido a adição da fruta (uva), mas sim ao processo de maturação em barris de madeira, onde é possível encontrar aromas e sabores de vinho tinto.
E como surgiu a Flanders Red Ale
A Flanders Red Ale é um estilo de cerveja prestigiado mundialmente que surgiu em 1821 pelas mãos de quatro irmãos (Pedro, Alexander, Ferdinand e Constantijn) na cidade de Roeselare, localizada na província de Flandres Ocidental. O quarteto decidiu investir em uma pequena cervejaria que hoje é conhecida como Rodenbach e é referência na produção deste estilo de cerveja.
Os quatro irmãos, sem saber como classificar suas cervejas, resolveram apostar em “borgonhas da Bélgica”, mesmo elas não tendo semelhança com o vinho tinto (uva Pinot Noir). Melhor dizendo, a única semelhança com a uva é que as cervejas são envelhecidas em barris de carvalho, onde a madeira não é nem um pouco esterilizada para que possa abrigar as mais diversas variedades de leveduras e bactérias selvagens.
Ao mencionar as leveduras é importante lembrar que esse estilo de cerveja pertence à família das fermentações híbridas, ou seja, fermentação Ale e Lager com adição de lactobacilos (que azedam a bebida). A presença das Bretannomyces (leveduras selvagens) traz um caráter terroso e, claro, “selvagem” que também pode ser definido como suor de cavalo, cheiro de estábulo e couro animal. A maturação desse estilo é essencial e precisa ser feita em barril de carvalho com uma longa duração.
Qual a diferença entre: Oud Bruin e Flanders Red Ale (Oud Red Ale)?
Dois estilos semelhantes, mas ao mesmo tempo distintos: a Oud Bruin é envelhecida em aço inox e possui uma combinação dos maltes Pilsen, Vienna e Munique. É possível encontrar um leve toque de cevada torrada, além do mix de leveduras. Já a Flanders Red Ale, que também é conhecida como Oud Red Ale, possui notas frutadas e acéticas (aquele leve toque ácido, mas no bom sentido!).
Outra prática comum na produção da Flanders é o Blend. Esse processo consiste em misturar a cerveja jovem (fresca, com pouco tempo de maturação) com outra envelhecida no tonel de carvalho (longo prazo de maturação). Por fim, esse é o tipo de cerveja capaz de remeter ao passado, porém sua popularidade é crescente, afinal é fabricada cuidadosamente por pessoas apaixonadas por esse estilo.
Para entender um pouco mais sobre esses dois estilos, confira essa matéria escrita pelo sommelier Amaury Jr.