Há um pouco mais de um ano atrás resolvi aceitar o convite que o Ivan e o Dennis Torres fizeram para ir trabalhar na cervejaria Königs Bier de Jaraguá do Sul. Sempre tive uma admiração e respeito pela história da cervejaria e pelo cuidado com processos que eles tinham. Para mim isso era ponto crucial para eu mudar de trabalho: Um lugar, um espaço que respeita a cerveja, que entende seu processo e respeita o que ela é.
Agora, passados mais se um ano, estava eu sentado na frente do Ivan para pensar o texto dos 15 anos da Königs Bier, e perguntando como foi? Qual a sensação? Pois ficava imaginando como era naquele tempo pensar numa cerveja artesanal onde você olhava para o mercado e podia dizer: “tuuudo era mato”. Principalmente em Jaraguá do Sul, em SC.
Você deve estar pensando que as cervejas artesanais sempre estiveram aqui, mas não. Lá pelos anos 2000 nós ainda éramos tomados por cervejas standards, vendidas massivamente como se só aquilo fosse cerveja. A Pilsen que todos chamavam não passava de american lagers com seu baixo aroma e sabor que deveria ser bebida a baixíssimas temperaturas, muitas vezes para congelar as papilas gustativas e você não sentir os defeitos que ela tinha.
Quando a Königs lançou sua “Pilsen” era muita mais próxima de uma Bohemian Pilsner, uma típica cerveja clássica da cidade da Plzeň, na Boêmia, do que aquelas cervejas “aguadas” como diriam. Então era como catequisar as pessoas para entenderem os sabores e aromas que de fato as Pilsner tinham. Não foi tarefa fácil.
Bem antes dos anos 2007
Voltando ao Ivan, ele me contava que lá pelos anos de 97, ele e a Rubia, uma das fundadoras junto com o Ivan e o Dennis, foram para Alemanha, e ficaram impressionados como cada cidade, cada vilarejo tinha uma cervejaria para chamar de sua. Era, e é ainda, uma espécie de cartão postal da cidade apresentar a sua cervejaria ou suas cervejarias. Ali eles viram algo que podia dar certo em Jaraguá, cidade tipicamente de cultura alemã.
A Rubia era sempre envolvida… era não, é envolvida nos movimentos culturais da cidade, para ela a questão de cultura germânica e cerveja estão muito ligadas. Logo era meio que natural fazer o que deveria ser feito: Uma cervejaria de Jaraguá do Sul! E essa ideia ficou maturando… até 2007.
A Primeira Mulher Cervejeira de Jaraguá do Sul
Fabrica montada, tudo pronto, mas peraí, precisava de um mestre cervejeiro. E por que não uma Mestre Cervejeira? Num mundo tão masculino, ter uma mulher a frente da produção da cervejaria era algo praticamente inexistente. Então, a Rubia topou ser essa mulher para a cervejaria Königs Bier.
Se formou em mestre cervejeira e foi tocar a fábrica, enquanto que o Ivan tocava o financeiro e o Dennis a parte administrativa e logística.
Num mundo tão masculino, a Rubia fez com que sua voz e sua forma de pensar a cervejaria fossem a frente. Vieram outros para contribuir, como o Marcos, cervejeiro experiente que ajudou significativamente a ajustar o processo que tanto a família Torres queria.
Novos desafios, medalhas, medalhas e medalhas…
O Processo de repetitividade veio e com isso veio qualidade constante. Vieram receitas mais elaboradas, veio a defumada, uma Rauchbier, e o sonho de transportar o que haviam visto em Bamberg na Alemanha. E assim construíram uma receita que viria a se tornar uma das cervejas mais premiadas do país, a segunda no estilo.
Depois vieram prêmios para a Bock, a Weizen e a Catharina Sour de Maçã e Canela, que veio a se tornar a segunda cerveja mais premiada da cervejaria e uma das mais premiadas do norte de SC.
15 Anos
Quando uma cervejaria completa 15 anos, significa muitas coisas, mas muitas mesmo. Significa que sim, o mercado cervejeiro de cervejas artesanais está sedimentado e conseguiu graças a cervejarias como a Königs e tantas outras que lá atrás romperam fronteiras e resolveram fazer algo diferente.
Que nos processo dos anos 2000 o mercado cresceu muito, com muitos aventureiros, mas que cervejarias com um bom planejamento podem ter uma longa vida.
E graças a esses primeiros que vieram, outros tantos se aventuraram e com uma terreno já sedimentado conseguiram ter êxito. Por isso parabenizar cervejarias como a Königs Bier é celebrar por uma longevidade da cultura cervejeira que cada vez mais se mostra maior.
Um brinde a isso, ou como diríamos: Cheers!