Muitas Vezes um milho numa cerveja cai muito bem!
Como os cereais não maltados, no caso do milho e arroz não são os únicos grandes vilões das cervejas de má qualidade quanto em muitas vezes estes cereais fazem das nossas cervejas um festival de experiências incríveis.
Puro malte segundo a lei
Você já deve ter ouvido falar da cerveja Puro Malte é a melhor, que a Puro Malte é cerveja de verdade, não é mesmo?
O MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) exige a identificação no rótulo da cerveja, segundo o Decreto nº 9.902, em julho de 2019 que estabelece novas regras para definir o que é cerveja. Sendo que cerveja puro malte é “quando elaborada a partir de um mosto cujo extrato primitivo provém exclusivamente de outro cereal maltado.”
Isso está longe de significar que a cerveja é de qualidade. O MAPA deu uma boa melhorada no que tange a agregar novas normas, e isso é muito positivo, mas algumas cervejarias, principalmente os grandes players ao invés de propor uma conversa franca e honesta sobre isso, usam para marketing de venda, e só. Um exemplo disso é a Duplo Malte.
A Reinheitsgebot
Mas isso tem um fundo, ele tem raízes na Lei da Pureza alemã, a Reinheitsgebot, o tratado alimentício mais antigo registrado da humanidade que regrava que a cerveja deveria ter apenas malte, lúpulo e água (o fermento não tinha sido “descoberto” ainda).
O duque da Baviera, Guilherme IV, promulgou essa lei por vários motivos, um deles era que se colocava qualquer coisa na cerveja, você nem imagina o que as pessoas colocavam nas receitas. Outro motivo, possivelmente mais plausível, era que como a escassez do trigo na região afetava diretamente a fabricação de pães, a necessidade de tirá-lo das receitas de cerveja seria uma boa solução.
Para combater os grandes players e suas cervejas a base de cereais não maltados, essa máxima de lei de pureza veio à tona e tornou-se meio que um mantra para cervejas boas. Mas isso está longe de ser totalmente verdade.
Cereais não maltados na cerveja, e daí?
Acontece que o milho e tantos outros grãos como arroz e o próprio trigo, produzem cervejas tão espetaculares que seria uma surpresa você perceber que sua base ou parte dela é feita com grãos não maltados.
Aliás, quando você sente aroma de milho em uma cerveja muitas vezes nem é milho, mas sim um defeito produzido durante o processo cervejeiro, ou seja, você está bebendo cerveja de má qualidade e não de milho. Aliás, o milho pouco confere aroma e sabor a cerveja. A sua função principal é fornecer açúcares fermentáveis sem acrescentar corpo para a bebida, deixando-a mais leve e fácil de tomar.
Já o arroz traz consigo um leve dulçor, sem contribuição de cor e também de corpo.
O trigo é outro cereal que muitas vezes já foi e continua sendo utilizado na sua forma não maltada, conferindo sabor de massa de pão crua e deixando uma cremosidade no sensorial da boca. Os belgas são os que mais utilizaram em seus diversos estilos de cerveja.
Nossas “pilsens” são americanas
As cervejas mais comuns, aquelas de consumo de massa, que habitualmente costumamos chamar de Pilsen nem de longe, lembram o amargor e maltado de estilos Tchecos ou Alemãs. Aliás, certamente acharia elas “amargas”. Essas cervejas tão sem vida e que são servidas estupidamente geladas são conhecidas como American Lager, ou American Light Lager, e como o próprio nome diz: são de origem americana e não alemãs ou Tchecas.
Um ponto importante é que até 1873 a lei de pureza alemã só era aplicada na região da Baviera, então até os próprios alemães que imigraram para as Américas tinham o costume de usar adjuntos ou cereais não maltados. Vide o exemplo do uso de milho e arroz por esses imigrantes nas cervejas americanas.
Por falar em americanos, nos EUA é muito comum o uso de milho. Por serem grandes produtores de milho, e com o custo alto da cevada durante os séculos, o milho foi muito importante para diminuir os custos da cerveja. Outro fator importante foi o período entre guerras que fez com que o malte tivesse uma alta substancial e a busca de outros cereais para diminuir o custo foi uma das estratégias adotadas por países como a Inglaterra, por exemplo.
As melhores cervejas com seus milhos e outros cereais não maltados
O universo cervejeiro está rodeado de exemplares que mostram o quanto cereais não maltados tem sido importantes na construção de sabores, aromas e sensações nos mais diversos estilos.
A Bélgica é um país que instiga muito o uso de cereais não maltados, mas também os mais diversos adjuntos que dão um “tempero” especial às cervejas belgas. Uma das cervejas de maior referência no mundo, A Flanders Rodenbach, leva em sua composição até 20% de milho.
A própria Guinness por muito tempo usava xarope de milho com o propósito de deixar a cerveja mais leve. Segundo a cervejaria eles não usam mais há alguns anos.
E se a questão não é só pelo uso do milho ou de outras cereais, a Westvleteren 12, uma Belgian Dark Strong, produzido pelo mosteiro da ordem trapista na abadia de St. Sixtus na região de Flanders, Bélgica, considerada uma das melhores cervejas do mundo fica bem longe da lei da pureza alemã, usando em sua composição muitos cereais não maltados.
Aliás os belgas são propícios a fazer essas experimentações com cereais não maltados. (explorar mais estilos)
Antes de julgar, beba!
O uso de cereais não maltados não é sinônimo de má qualidade. Você pode encontrar excelentes exemplares e ainda se apaixonar pelos seus aromas e sabores. O que você tem que estar atento é quanto a qualidade que você bebe. E para isso você precisa experimentar, sempre! É como eu digo, existe um estilo preferido para cada um, só descobrir qual.
Ah! Mas e as puro malte? Você entendeu o que disse, né? A melhor cerveja é aquela que você gosta!
As propagandas estão aí para vender, verdades ou não! Mas a escolha de beber algo é extremamente sua!