Foto: Amanda Picolli
Muita reflexão e debate sobre o uso das redes sociais tem sido feito em diversas áreas de atuação, no meio cervejeiro não é diferente, também é preciso discutir o que pode ser favorável para os profissionais do nosso mercado.
Tenho andado extremamente reflexiva sobre minhas ações online, pois o mundo de hoje está tomado pela tecnologia e globalização, não me entenda mal, eu adoro isso e apoio que possamos desenvolver cada vez mais nossas habilidades digitais. Entretanto, algumas perspectivas de uso da internet e suas mídias sociais podem ser nocivas para a vida pessoal e profissional.
Venho trazer essa reflexão pois em alguns momentos tenho me sentido deslocada, quando não tenho vontade/tempo de produzir conteúdo em fotos, vídeos e carrosséis divertidos e educativos sobre cerveja no meu Instagram pessoal/profissional. Não é de hoje que estamos aumentando nossa exposição no ambiente virtual, mas as coisas têm evoluído rápido demais, e quando a gente percebe, nossa vida inteira está lá.
Assim que me tornei sommelier de cervejas, imaginei que compartilhar meu trabalho no instagram pudesse me ajudar a divulgar e fazer uma espécie de currículo online, que meus possíveis clientes pudessem se interessar por meus serviços. Desde então, tenho tentado falar de cerveja de uma maneira informativa, descontraída e divertida, pois queria que as pessoas vissem como eu sou realmente, além do meu conhecimento sobre cerveja.
Passei a me preocupar mais sobre que tipo de conteúdo poderia ser interessante, qual foto chama mais atenção, qual música está nas trends, qual formato de vídeo, que aplicativo posso usar para melhorar a edição, qual luz vai favorecer a foto da cerveja, “não esquece de marcar a cervejaria”. De início, tudo isso foi natural, pois eu sou uma pessoa muito expressiva e acreditei genuinamente que isso me renderia resultados em algum momento.
Eu acreditei, que ser bem vista nas redes, poderia fazer uma cervejaria, bar ou instituição, requisitar meu trabalho. No caminho, acho que esqueci que não precisava viver pra isso, e olha que considero que nem tiro foto ou faço vídeo de tudo. Mas para entender o que quero dizer, posso dar o exemplo de alguns trabalhos em eventos ou palestras que fiz: a maioria eu esqueci de registrar por foto ou vídeo! Algumas vezes, pedia para um colega ou o marido tentar registrar tudo, mas o ponto é que todas as vezes que eu estava realmente trabalhando, super ocupada com meu trabalho de sommelier, eu esquecia de postar.
Isso mostra, que eu não preciso realmente estar conectada o tempo todo para mostrar meu trabalho, eu preciso trabalhar!
É muito comum no nosso meio, o beer influencer. A pessoa que recebe cervejas, que faz publis e está sempre indicando uma marca/cervejaria para consumir. Eu não vejo nada de errado nisso, é um tipo de fomento do mercado artesanal, se feito com responsabilidade.
O que me preocupa é a conexão entre marcas de cervejas com pessoas que não tem a mínima noção do que estão falando, vide o caso da influencer com a chopeira portátil que “ativava as leveduras”. Isso é desinformação para um mercado que estamos tentando construir na base do estudo e esforço em instruir o público.
Esses debates devem ser feitos em todas as esferas, desde nós sommeliers que almejamos maior valorização da classe, até a cervejaria que escolhe as pessoas que podem representar o posicionamento da empresa.
A minha grande crítica com tudo isso, é que não quero ser avaliada como boa profissional apenas pelos conteúdos que posto, isso é apenas uma parcela do meu trabalho. O que existe por trás das câmeras é a outra ponta do iceberg.
E que usar mídias sociais seja uma ferramenta de venda do trabalho, não a labuta em si! Se uma pessoa tem mais facilidade em aparecer, botar a cara para falar, ótimo! Precisamos de pessoas assim, mas que não seja por obrigação, que possamos diminuir essa atividade como validação de bom trabalho e sucesso. Até porque, ninguém tem sucesso o tempo todo, não é mesmo?
Como tudo muda muito e evolui muito rápido, é preciso fôlego para tentar acompanhar todas as tendências e talvez por isso, nós temos parado muito pouco para pensar sobre essa evolução. Nos últimos tempo, as dancinhas falaram mais alto, e nos fizeram embarcar num mundo que não é nosso. Não é preciso ser influencer para ser sommelier, nem o contrário.
Eu torço que meus colegas de trabalho possam ser éticos e sérios sobre suas opiniões de cerveja, nunca menosprezar uma cerveja por motivos pessoais e entender que fazemos parte do desenvolvimento de um setor em crescimento, que precisa de muita informação ainda para melhorar.
Eu torço, que o esgotamento tecnológico que muitos estão sentindo, possa nos fazer pensar sobre nossas ações digitais. Eu continuo querendo ser vista como uma boa sommelier, mas por enquanto, visibilidade ainda não paga contas.