Lembrei de uns textos que li aqui no site, sobre a Escola Americana, que ressoou no livro chamado Uma Breve História da Bebedeira do Mark Forsyth, nele há várias histórias de bebedeira ao longo da história humana.
Em um dos trechos do livro é contada a história da Lei Seca nos EUA que duraram 13 anos e tiveram resultados que se espalharam por décadas e até hoje possuem influência, inclusive no Brasil.
Segundo o autor, a Lei Seca deu certo, apesar de muitas leituras alegarem o contrário. Apesar da discussão sobre o álcool, o principal ataque era contra o “saloon”. E esse de fato sumiu do cenário americano ao fim da Lei Seca.
O movimento que levou à Lei Seca teve resultados que duram até hoje. Um dos principais fatores disso tudo foram os movimentos feministas. Isso mesmo, feministas. Como bem disse Forsyth “O movimento que levou à Lei Seca era feminista”, basta lembrar que a grande líder do movimento era Hanna Jumper que você pode conhecer muito bem a história dela no texto da Maria da Hora aqui .
Os Saloons, o grande vilão.
Existia um sentimento, segundo Mark, onde os maridos recebiam pelo trabalho e gastavam tudo nos saloons. Como bem disse a Maria da Hora no seu texto sobre Hanna, os homens na região, por exemplo, no esteio de Rockport só permitiam a pesca durante nove meses, os outros 3 meses ficavam numa espécie de “férias”, os Saloons eram seus destinos corriqueiros.
Existiam livros, histórias que mantém a ideia de que os saloons eram os grandes vilões. Histórias como Ten In a Bar Room and What I Saw There considerado um best seller. A história do pai que era atraído para os saloons e que perpetuava a violência doméstica, a pobreza humana e a morte.
Para se ter uma ideia, no início do século XX eram mais de 300mil saloons exclusivamente masculinos. Ao fim da Lei Seca foram incluídas a presença de mulheres como o número de bares tinha praticamente desaparecido.
o fim da Lei Seca legalizou bares, restaurantes que serviam vinho, mas os Saloons não voltaram.
O Papel das Mulheres
Foi de fundamental importância o papel ativo das mulheres no processo que desencadeou a Lei Seca como também a retomada de bares legalizados e com participação ativa das mulheres.
Uma das principais líderes anti-álcool Pauline Sabin, se tornou a primeira mulher do comitê republicano que veio a fundar o Women’s National Republican Club, organizava manifestações contra o álcool.
Mais tarde, a mesma Sabin foi uma das líderes que criou a Organização das Mulheres para a Reforma Nacional da Proibição a fazer campanha pela revogação, quando percebeu que o efeito da lei tinha dado resultados preocupantes.
Eram as mulheres que organizavam manifestações com as famosas machadinhas, um símbolo para destruir os barris com bebidas alcóolicas, ou movimentos em frente a saloons masculinos protestando contra os homens e o funcionamento dos bares. Elas se ajoelhavam, rezavam e até invadiam os espaços para destruir os barris com suas famosas machadinhas.
Repetindo o que o livro Breve História da Bebedeira ” O resultado (da Lei Seca) foi um grande despertar político das mulheres americanas. Como não podiam ir a saloons ou votar, levavam os protestos para a frente dos estabelecimentos.”
Enfim, no final das contas a Lei Seca resultou em uma presença mais feminina nos bares.
Sim, deu certo!
Enquanto, comumente se acha que a lei deu errado, ela de fato deu certo.
No ano de 1933, ano da revogação, tinha caído pela metade o consumo de álcool. E isso que somente em alguns lugares aconteceu de fato.
Outro fator era o perigo. Sim, perigo. Boa parte das produções ilegais levavam a criminalidade as alturas, como é caso de pessoas como Al Capone, mas também a qualidade desses produtos eram duvidosos como também letais. Citando novamente Mark ” Num incidente em Wichita, uma leva de bebidas falsificadas deixou num único dia quinhentas pessoas aleijadas para o resto da vida”.
Outro fator, de fundamental importância é que em casas noturnas se encontravam uma diversidade de pessoas, de raça, credo e gênero. Essas relações humanas fizeram mais bem que “igrejas, brancas e negras, fizeram em dez décadas” como frisa Mark.
Ao final de tudo a Lei Seca fez muito mais pelas relações sociais que séculos de existência dos EUA.
Seguiram também inúmeras indústrias de bebidas que sucumbiram. Só ouvimos falar das bebidas clandestinas, mas fundamentalmente, indústrias de bebidas alcoólicas sucumbiram ou mudaram de ramo.
Para fazer bebidas eram exigidos equipamentos especializados, pessoas capacitadas, e por 13 anos isso simplesmente não existiu.
Ao final da Lei Seca uma geração estava sem acesso ao álcool, e o resultado foram as bebidas leves, quase insípidas que vieram depois com baixa concentração alcóolica.
E o resultado de tudo isso?
Bom, para as mulheres só fortaleceu mais seu papel ativo na sociedade. Agora são parte do cenário dos bares como também conquistaram o direito ao voto, logo tendo representantes mulheres no cenário político americano.
Outro fator foram os impostos. Sim, até 1913 não existia o imposto nacional nos EUA. E a lei seca foi, segundo estudiosos, de fundamental importância a implantação da lei seca para que o imposto nacional vigorasse.
Por uma questão política sem a aprovação da lei seca na época, não teria passado e não teria apoio para implantar a 18° emenda (lei seca).
Para se ter uma ideia, em 1900, cerca de 30% dos impostos cobrados vinham de impostos gerados pelo álcool. E com a crescente onda progressista que entre as suas pautas estava terminar com o mal que flagela a nação, o álcool, tinham uma ideia de um imposto de renda único como forma de equilibrar as enormes fortunas que alguns indivíduos ganhavam.
E com a garantia de cobrar um imposto de renda nacional, não tinha mais a dependência do álcool.
O principal resultado foi que as pessoas simplesmente pararam de beber. É claro que houveram muitos casos de pessoas em bares clandestinos, e coisa e tal, mas isso era minoria. O fato foi que a população americana, só voltaria aos patamares de consumo per capita de bebidas alcoólicas antes da lei seca, somente nos anos 70.
A parte curiosa de tudo isso é que leis anti-álcool não aconteceram apenas nos EUA. Segundo o autor do livro História da Bebedeira, países como Islândia, Finlândia, Noruega, Nova Zelândia tiveram períodos distintos da lei entre os anos 1915-19 a meados de 1927-32.