Quem sabe seja essa a nossa escola cervejeira brasileira? O nosso terroir tão buscado como uma espécie de santo graal!
Tantas perguntas, poucas respostas
Desde que o meio cervejeiro brasileiro começou a tomar forma, um cenário se avolumava a frente e diversas perguntas sem muitas respostas se criavam: Como seria a escola cervejeira brasileira? De que forma ela se desenvolveria?
Muitos tentaram e ainda tentam seguir a linha que a própria escola cervejeira fez: recriou estilos clássicos europeus e os fez a sua imagem e semelhança.
Mas o que diferenciaria nós, excepcionalmente, do restante do mundo? Fazermos uma Cream Ale com dry hopping? Criamos uma Belgian Pale Ale com leveduras brasileiras? Será que o caminho está nas frutas usadas nas Catharinas Sours? Talvez, apenas talvez, o caminho esteja na nossa flora, no nosso jardim de casa?
Uma diversidade imensa a nossa frente
Temos uma diversidade imensa a nossa frente, conseguimos extrair da nossa terra uma gama de frutas, ervas, madeiras que constituem nossa flora, algo praticamente impossível de se repetir em qualquer outro lugar. Isso, pode construir algo único, indissociável.
Não precisamos estar associados como colônia a cultura cervejaria americana. Os próprios americanos nos indagam por que não utilizamos nossas frutas nas nossas IPAS, por exemplo. Eles não têm essa diversidade de frutas tropicais, e por conta disso utilizam, muitas vezes, a quantidade e tipos de lúpulos produzidos por lá para as suas cervejas.
Por conta dessa nossa diversidade vários projetos de lúpulos, maltes e leveduras com o terroir brasileiro tem se formado em nosso país. Criando condições ideais para desenvolvermos uma identidade própria. Uma cerveja para chamar de sua. O exemplo mais recente foi a Catharina Sour, primeiro estilo brasileiro reconhecido pelo BJCP feito com base nas frutas tropicais frescas que temos aqui no nosso país.
E para construirmos isso podemos nos desapegar da tradicional lei de pureza. Surpreso? Sim, é possível, e ainda chamar de cerveja. Um dos maiores exemplos estão em nossa própria cultura nativa: A indígena. Eles desenvolveram uma cerveja tipicamente brasileira, extraindo da terra o que tinha para desenvolver o Cauim. Uma cerveja a base de mandioca e cana de açúcar. Tradicionalmente produzido por mulheres, o Caxiri (como também é conhecido) por conta da cana de açúcar, confere sabores e aromas muito próximos das cervejas comercializadas pelo mundo. Sendo uma bebida ancestral de nosso povo.
Um projeto de Terroir
Recentemente o que tem surgido e que merece uma atenção especial é o projeto chamado Manipueira, que se refere ao líquido extraído da mandioca. Capitaneado pelas cervejarias Cozalinda e pela Zalaz, estão buscando e conseguido êxito na busca de um terroir para chamar de seu.
Eles desenvolvem projetos com base em leveduras cultivadas no próprio ambiente e não desenvolvidas em laboratórios.
Além disso usam a flora local para criar suas receitas e o resultado é uma complexidade de aromas e sabores que tem encontrado cada vez mais adeptos, quer eles sejam pessoas que procuram diversidade no meio cervejeiro, ou até amantes de vinhos.
Qual o nosso futuro?
Todos os caminhos são válidos? Sim, se são autônomos, se procuram uma identidade, se tem um valor de criar uma cultura própria de cerveja são mais válidos ainda.
Alguns caminhos podem ser duvidosos e levantar muito mais questionamentos do que propriamente alguma cerveja que venha ao encontro do que deva ser uma “revolução” cervejeira.
De qualquer forma, estamos construindo, estamos montando uma série de situações que vão montando nossa tão falada escola cervejeira, ou algo que seja próximo de uma cultura própria.
E o caminho? Ah, o caminho? É cheio de riqueza, mas tem que saber minerar. Elas estão aí a postos, na nossa terra, prontos para serem usadas da melhor forma possível. E sim, é possível!